segunda-feira, abril 24, 2006

What we've done and where we're going


Na revista de ciência Seed o estado do planeta em gráficos que são um exemplo supremo de comunicação com imagens. Para lá do fascínio dos grafismos, é um bocado deprimente.

domingo, abril 23, 2006

Clonagem e dignidade humana

Continuo a afirmar que a minha opinião sobre a clonagem de humanos está em formação. Daquilo que li, inclino-me para uma posição favorável, seja da clonagem terapêutica, seja da reprodutiva. Quando me deparar com argumentos que me convençam do contrário, mudarei de opinião. Não me move nenhuma vontade de vencer por alguma das posições.
A 11 de Abril o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) emitiu um parecer (48/CNECV/06) pela proibição. O argumento principal apresentado para fundamentar esta posição é o de que a clonagem com fins reprodutivos "viola a dignidade humana". O argumento da dignidade humana não me convence uma vez que acho que a dignidade não se perde por se ter nascido por clonagem. O ser humano é muito mais do que o seu património genético ou o historial clínico que levou ao seu nascimento.

Depois de consultar o Relatório Sobre Clonagem Humana de Abril de 2006 da CNECV não consegui perceber aonde é que a clonagem afecta a dignidade humana no que diz respeito ao "carácter único e irrepetível do ser", tal como fora definido por Kant. Também, em abstracto, não vejo como uma pessoa que tenha sido clonada, educada pelo pai, mãe ou educador(es), com desenvolvimento físico , mental e emocional normais, seja privado desta dignidade.

Sou sensível com o príncipio ético da precaução evocado no ponto 4 do parecer verificando-se "ausência de unanimidade ou ampla convergência científica e filosófica acerca da natureza do produto de transferência nuclear somática". Embora não concorde totalmente, parece-me que é conveniente não avançar à força quando há grande resistência nas mentalidades (em parte por uma espécie de repugnância em relação às manipulações de embriões humanos). Há outra razão a que já me referi aqui anteriormente neste blogue: a da segurança. Também me parece sensato apelar à investigação em células estaminais colhidas de indivíduos adultos e na reprogramação celular, tudo com o fim de evitar o recurso exclusivo às técnicas de transferência nuclear somática (pontos 4.1 e 4.2). No entanto, a minha concordância é por um motivo diferente: é que deve-se explorar todas as possibilidades para se conseguir a cura das doenças passíveis de serem combatidas por estas técnicas, seja recorrendo a células estaminais do cordão umbilical, células estaminais reprogramadas ou por células obtidas por transferência nuclear somática.

quarta-feira, abril 19, 2006

Intrões e núcleos

Uma das críticas que se faz à teoria endossimbiótica que explica o surgimento das mitocôndrias e cloroplastos é a incapacidade de explicar a origem d' "a" característica dos eucariontes: a existência do núcleo. Recentemente, surgiu uma hipótese explicativa do surgimento deste organelo (Martin and Koonin. 2006. Nature 440: 41-45) que recorre à observação de que a tradução é mais rápida que o processamento dos mRNAs. Assim, o núcleo terá surgido do desenvolvimento do sistema endomembranar, originando o envelope nuclear com a característica dupla membrana e continuidade do espaço periplásmico com o lúmen do retículo endoplasmático. Deste modo, separaram-se em compartimentos diferentes os processos de processamento de mRNAs (núcleo) e tradução (citosol). A evolução terá então favorecido os organismos que conseguiram esta separação com eficácia, evitando a tradução de produtos de transcrição sem o devido processamento, ou seja, ainda com intrões. Estes terão surgido a partir das mitocôndrias por um mecanismo de transferência de genes (contendo intrões do grupo II, ou seja, com capacidade enzimática de autoprocessamento) para o genoma do hospedeiro que envolveria lise destas mitocôndrias e manutenção de outras. Assim, estariam criados os primeiros spliceossomas num hospedeiro arquebacteriano que já continha mitocôndrias de origem eubacteriana. Isto implica que o núcleo é uma criação posterior às mitocôndrias.
Afinal os processos endossimbióticos também ajudam a explicar a origem do núcleo. O problema da origem da vida e dos primeiros tipos celulares é a dificuldade em testar as hipóteses. Por isso, todas estas matérias são um pouco especulativas sem, no entanto, estarem fundamentadas em observações e, assim, serem válidas cientificamente. Com o avanço da biologia molecular e biologia celular, vai-se produzindo informação que permitirá validar, ou não, esta hipótese.

quarta-feira, abril 05, 2006

Definição de vida: é a replicação um critério válido?


Via blogue Philosophy of Biology, é colocada esta pergunta suscitada pela notícia de que na Universidade de Cornell foi criado por Hod Lipson e colaboradores um robot auto-replicante, o "molecube" (ver aqui o vídeo, é fantástico!). Para além das possibilidades práticas que este tipo de robot pode tornar possível (auto-reparações de robots operários em estações espaciais ou noutros planetas), está a ser despoletada a questão da replicação (produção de cópias exactas) e reprodução (produção de cópias semelhantes). Isto faz-me lembrar o capítulo inicial de "The Origins of Life" de John Maynard Smith e Eors Szathmáry (Oxford) em que é referido o exemplo do fogo como entidade capaz de replicação e até de metabolismo com trocas químicas e de energia com o meio. A capacidade de criar cópias com alguma variabilidade (reprodução) parece distinguir os seres vivos. Esta variabilidade é causada por alteração nas instruções (informação genética nos genes), o que nos distingue do fogo (sem instruções para a replicação) e destes "molecubes", cujo software não me parece que seja passível de modificação por qualquer processo sem intervenção dos criadores (humanos) destes robots.