terça-feira, novembro 25, 2008

"...fruit flies make beautiful experiments possible"

Numa época de upgrading de tudo o que é publicado (o comum "puxar a brasa à sardinha"), uma reflexão sobre a comunicação científica em comunicados de imprensa. Como foi sugerido por P.Z. Myers, e se a palavra "importante" fosse substituída por "belo"?

sábado, novembro 15, 2008

Helicase de emparelhamento "specifically designed"

Uma notícia que me chamou a atenção pelo interesse da descoberta de uma proteína que faz o papel inverso da helicase, ou seja, em vez de desnaturar DNA (separar as duas cadeias da molécula), o que ela faz é renaturar (emparelha as cadeias de DNA em cromossomas que apresentam desemparelhamentos). Proteínas que "mexem" no DNA como se fosse um elástico já se conheciam, desatando nós por exemplo, mas esta, a HARP, manipula o DNA duma forma que ainda não tinha sido previsto ser necessário. Depois de descoberta, é mais fácil imaginar uma função biológica como, por exemplo, a tensão mecânica acumulada por desenrolamento da molécula poder levar ao desemparelhamento em determinados locais das duas cadeias. Nestes casos a HARP corrige a molécula promovendo o reemparelhamento das cadeias.

Esta é a parte científica que me tinha chamado a atenção. O meu espanto, se calhar maior do que a descoberta da HARP, foi encontrar a seguinte frase:

The discovery represents the first time scientists have identified a motor protein specifically designed to prevent the accumulation of bubbles of unwound DNA, which occurs when DNA strands become improperly unwound in certain locations along the molecule.

Nesta frase está um erro científico que não deveria surgir, a menos que a entrega destes textos de divulgação esteja a cargo de pessoal sem formação na área científica (o que, mais uma vez, nunca deveria acontecer). Refiro-me ao "specifically designed" que remete a criação da HARP para uma entidade inteligente com capacidade de análise do problema do desenrolamento do DNA e de programar a formação de proteínas capazes de corrigir esse defeito. Essa entidade poderia ser Deus ou, até, a própria célula. Como se pode constatar, isto já não é ciência e a presença desta expressão num texto de divulgação científica transmite uma ideia totalmente oposta áquela que deveria ser veiculada: os sistemas biológicos são o produto da evolução e selecção natural de longos períodos de tempo à escala geológica por mecanismos de produção de variação, nomeadamente de proteínas, e de selecção daquelas que conferem uma vantagem competitiva. Neste contexto a HARP não foi especificamente desenhada para prevenir a acumulação de bolhas de DNA desemparelhado mas, sim, a actividade da HARP faz com que as células não acumulem bolhas de DNA desemparelhado. E pronto, a carga determinista desaparece. Esta pequena diferença na escrita faz uma diferença do tamanho do mundo nos conceitos científicos.

segunda-feira, novembro 03, 2008

Não há mais

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Parece que o tirolês que ficou preso num glaciar há 5300 anos pertencia a uma linhagem que se extinguiu. A análise do seu DNA mitocondrial determinou um haplogrupo que não se encontra nos europeus modernos. Enfim, ficou o seu corpo preservado no gelo para nos testemunhar esta linhagem sem sucesso. A nível molecular já bateu um recorde: o especimen de Homo sapiens mais antigo com o DNA mitocondrial sequenciado. Há muitas formas de atingir a fama; esta é original.