segunda-feira, outubro 17, 2005
Tarefa de paciência
Eis uma aplicação prática da genética de grande impacto social: a identificação de indivíduos desaparecidos devido a conflitos militares, catástrofes naturais ou soldados participantes em batalhas (ver Público de 15/10/05, página 30). É impressionante a quantidade de trabalho envolvido na identificação de vítimas de catástrofes ou de conflitos militares, pois não basta fazer a colheita de material biológico para fazer a análise (o que já é difícil em ambiente caótico pós-catástrofe), muitas vezes com material já em degradação. É preciso confrontar os perfis genéticos com os de familiares de desaparecidos e também cruzar as informações genéticas com outras de carácter antropológico e ainda outras, diversas, como por exemplo a presença de objectos pessoais junto ao cadáver. É um trabalho longo e lento que requer paciência como refere Thomas Parsons, consultor da Comissão Internacional para Pessoas Desaparecidas (ICMP), pois em muitos casos, os conflitos ainda não estão completamente resolvidos e é preciso envolver familiares em populações envolvidas em conflitos étnicos como por exemplo na Bósnia e Sérvia. Do conflito na ex-Jugoslávia, a ICMP tem o perfil genético de 15000 ossos, o que possibilitou a identificação de 8000 vítimas. Citando Thomas Parsons nesta entrevista: "...à medida que são identificadas mais pessoas, mais consciência há de que isto só é possível através da cooperação entre pessoas que já não estão em guerra. Serve para sarar as feridas da sociedade e permite a consciencialização de que aconteceu a todos uma tragédia e há uma solução comum."
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