Num artigo recente, Eduard Kellenberger, um dos fundadores da EMBO, faz um resumo da evolução da biologia molecular. Estão lá os passos mais importantes dados na biologia, a começar no século XIX com Gregor Mendel e Charles Darwin, a partir da altura em que a biologia passou a ser uma ciência da descoberta de relações funcionais e não, como tinha sido até aí, uma ciência essencialmente descritiva.
Ao comparar a biologia com outras ciências, Kellenberger faz a distinção da complexidade dos sistemas estudados pela biologia: os seres vivos. Aqui a sequência de acontecimentos entre causa e efeito é uma rede multidimensional em vez de uma cadeia curta e linear. Assim, em vez de termos cadeias de causalidade como nos sistemas simples, temos "near-causalities" (desculpem, não consegui arranjar uma expressão em português) nos sistemas complexos em que se obtém a probabilidade de um efeito a partir de uma determinada causa e não uma relação directa causa-efeito.
O holismo como visão global dos sistemas em análise, de que a biologia de sistemas é a manifestação sob a forma de área científica emergente, é também abordada. Por outro lado, o reducionismo reverso é exemplificado na projecção de observações em seres vivos simples para os seres vivos mais complexos. Aqui a vantagem seria a de poupar tempo e esforço através do estudo de organismos simples e fáceis de manipular em laboratório (os tão populares organismos modelo) para se extrapolar para os organismos complexos.
Finalmente, aborda a manipulação de palavras e expressões que ultimamente tem sido feita com o objectivo de atrair financiamento para a investigação. É o caso do uso indiscriminado da expressão biologia molecular e, em particular, da palavra molecular para designar todas as suas "variantes" como por exemplo genética molecular, ecologia molecular e microbiologia molecular. Na era dos "omics", temos também a genómica que serve para designar tudo o que diz respeito ao estudo de genomas e que na verdade designa apenas sequenciação de genomas e proteómica que não é mais do que bioquímica de proteínas . As palavras também têm modas e na ciência isso tem sido bem evidente (este blogue é um reflexo disso, confesso, a começar pelo título); é curioso como a palavra química caiu em desuso a favor da palavra molecular.
Sem comentários:
Enviar um comentário