domingo, abril 23, 2006

Clonagem e dignidade humana

Continuo a afirmar que a minha opinião sobre a clonagem de humanos está em formação. Daquilo que li, inclino-me para uma posição favorável, seja da clonagem terapêutica, seja da reprodutiva. Quando me deparar com argumentos que me convençam do contrário, mudarei de opinião. Não me move nenhuma vontade de vencer por alguma das posições.
A 11 de Abril o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) emitiu um parecer (48/CNECV/06) pela proibição. O argumento principal apresentado para fundamentar esta posição é o de que a clonagem com fins reprodutivos "viola a dignidade humana". O argumento da dignidade humana não me convence uma vez que acho que a dignidade não se perde por se ter nascido por clonagem. O ser humano é muito mais do que o seu património genético ou o historial clínico que levou ao seu nascimento.

Depois de consultar o Relatório Sobre Clonagem Humana de Abril de 2006 da CNECV não consegui perceber aonde é que a clonagem afecta a dignidade humana no que diz respeito ao "carácter único e irrepetível do ser", tal como fora definido por Kant. Também, em abstracto, não vejo como uma pessoa que tenha sido clonada, educada pelo pai, mãe ou educador(es), com desenvolvimento físico , mental e emocional normais, seja privado desta dignidade.

Sou sensível com o príncipio ético da precaução evocado no ponto 4 do parecer verificando-se "ausência de unanimidade ou ampla convergência científica e filosófica acerca da natureza do produto de transferência nuclear somática". Embora não concorde totalmente, parece-me que é conveniente não avançar à força quando há grande resistência nas mentalidades (em parte por uma espécie de repugnância em relação às manipulações de embriões humanos). Há outra razão a que já me referi aqui anteriormente neste blogue: a da segurança. Também me parece sensato apelar à investigação em células estaminais colhidas de indivíduos adultos e na reprogramação celular, tudo com o fim de evitar o recurso exclusivo às técnicas de transferência nuclear somática (pontos 4.1 e 4.2). No entanto, a minha concordância é por um motivo diferente: é que deve-se explorar todas as possibilidades para se conseguir a cura das doenças passíveis de serem combatidas por estas técnicas, seja recorrendo a células estaminais do cordão umbilical, células estaminais reprogramadas ou por células obtidas por transferência nuclear somática.

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